Nós carregamos a responsabilidade pelo nosso desejo. Por quê? Porque o desejo é uma expressão do nosso livre-arbítrio. Ninguém pode nos obrigar a querer algo. Sendo assim, é nossa responsabilidade ativá-lo. A liberdade está sempre acompanhada de responsabilidade. Podemos nos conectar ou nos desconectar, nos abrir à curiosidade ou nos fechar para ela, nos animar ou nos entorpecer.
O erotismo floresce da tensão entre excitação e inibição. Ele se manifesta no que pensamos, dizemos e fazemos, na forma como agimos e sentimos. Embora muitas vezes associemos o erotismo ao sexo compartilhado, ele começa em um lugar mais íntimo: dentro de nós mesmos. E, como tudo o que é valioso, ele requer prática.
O Que é Erotismo?
Erotismo não é sexo. É a sexualidade transformada pela imaginação humana. São os pensamentos, sonhos, antecipações, impulsos incontroláveis e até lembranças dolorosas que formam nossas vastas paisagens eróticas. Ele é moldado por nossas experiências humanas, entrelaçando toques, brincadeiras e até traumas da infância que, mais tarde, tornam-se fundamentos de nossa vida erótica.
O erotismo não é confortável ou arrumado. Ele revela nossas lutas internas, tensões emocionais, um misto de excitação e ansiedade.
Como Podemos Acessá-lo?
Muitas vezes, o tédio sexual nos relacionamentos vem da falta de vulnerabilidade. Prioriza-se o ato sexual em si, em detrimento da exploração dos desejos ocultos que nos animam. O mesmo vale para nossa relação conosco.
Quando estamos sozinhos, sabemos o que funciona rapidamente – pornografia, brinquedos, estímulos pontuais. Mas, para explorar verdadeiramente o erotismo, precisamos desacelerar e nos permitir momentos de conexão profunda com nosso corpo e mente. Por que temos tanta pressa? Talvez por medo do que pode surgir ao dedicarmos tempo de qualidade a nós mesmos.
Vivemos sob o olhar crítico da sociedade, internalizando normas que nos fazem medir e julgar nossos próprios corpos, tratando-os como prisões, em vez de castelos repletos de salas a explorar. Se mal conseguimos estar presentes em nossos corpos, como poderíamos nos sentir seguros para convidar outra pessoa a compartilhar essa jornada?
Erotismo é mais do que penetração ou ato sexual. Trata-se de entrar em contato com nossa personalidade, sonhos, coração e alma. No entanto, muitos de nós somos tão autocríticos que perdemos de vista essas maravilhas internas.
Reconhecendo os Momentos de Conexão e Desconexão
Incorporar o erotismo em um plano de autocuidado significa afrouxar o controle cultural sobre o autocontrole. Pergunto frequentemente aos pacientes: “Eu me desligo quando…”. As respostas são muitas:
- Quando verifico e-mails antes de dormir.
- Quando me preocupo com as crianças.
- Quando estou estressado com o trabalho ou finanças.
- Quando como demais ou negligencio exercícios.
- Quando paro de cuidar de mim mesmo.
Pouco disso é estritamente sexual. O que nos desliga são as coisas que drenam nossa energia e vitalidade.
Por outro lado, pergunto: “Eu me ligo quando…”. As respostas geralmente envolvem momentos de autocuidado e presença:
- Quando estou na natureza.
- Quando danço.
- Quando cuido de mim mesmo.
- Quando me conecto com meu corpo e sentidos.
Esses momentos não se baseiam em metas específicas, mas no prazer de estar presente.
Redescobrindo o Corpo
Ignoramos partes de nosso corpo porque, em algum momento, aprendemos a desligá-las. Traumas, mudanças físicas, lutos ou ressentimentos podem nos afastar do que somos. Incorporar o erotismo em nossa rotina pode transformar essa relação e nos lembrar do prazer de viver.
Ser receptivo, disposto e curioso é fundamental no domínio do erótico. Desejar é um ato pessoal. E, para querer algo, precisamos nos sentir merecedores disso. Como Susan Rubin Suleiman sugere, autoestima e desejo estão profundamente conectados.
Seja através de toque, movimento ou práticas como dança e ioga, a conexão erótica com nosso corpo não é sobre desempenho, mas sobre voltar para casa – um lembrete de que a vida vale a pena, mesmo em meio a desafios.
Expandindo os Sentidos
Para aprofundar essa conexão, pergunte-se:
- Qual é sua temperatura de água favorita?
- Como você responde ao vento, sol, chuva?
- Você está atento às sensações que tocam sua pele?
- Como você se relaciona com seu corpo ao se lavar?
- Quando come ou bebe, saboreia ou simplesmente devora?
O autocuidado vai além de máscaras faciais e atenção plena. É sobre sintonizar com o corpo, explorando o que gostamos, o que não gostamos e o que ainda desconhecemos. Dança, automassagem ou simplesmente perceber as sensações da água no corpo podem ser passos simples para iniciar essa jornada.
Estar em nosso corpo é sobre criar um dos relacionamentos mais profundos e importantes que podemos ter: o relacionamento conosco mesmos.